Sonhos se sonham junto...

A nossa realidade é construida no nosso dia-a-dia! E quem disse que ela não muda? Sigo sonhando, os mesmos sonhos de anos atraz, de gerações atraz...o sonho da resistência, da luta por um mundo melhor!!! Doces sonhos compartilhados por tantos guerreiros e guerreiras...

13 dezembro 2007

Sobre o sonho de sermos iguais e livres...

Os livros de História evocam a Revolução Francesa e os seus ideários de igualdade, liberdade, fraternidade que desencadearam diversos processos de ruptura social, cultural, econômica, filosófica, científica com a ordem então vigente. E quase três séculos depois, será que somos mesmo iguais e livres? Será que a mudança na ordem determinou uma mudança significativa, estrutural, nas relações de dominação (ou opressão)? E finalmente, será que o acolhimento pelo direito desses ideais é suficiente para que nos reconheçamos como iguais?

Num sistema capitalista no qual para que uns acumulem, outros têm que passar por necessidades, no qual a representação feminina é a da fragilidade e a do homem a de força, virilidade, no qual ainda criamos nossas crianças ensinando-as que menino gosta de menina e menina de menino (e qualquer coisa diferente disso é pecado, é uma afronta a ordem "natural" das coisas) e que ter cabelo duro, lábios carnudos, nariz achatado e pele escura é "ruim", é "feio", somos verdadeiramente IGUAIS? De que forma podemos falar em liberdade se estamos submetidos a um padrão ético, moral, de comportamento, de conduta, de consumo?! Desde a família, a escola, o trabalho, até os meios de comunicação de massa. Não se articula um processo de restrição, de adequação, aos estritos limites impostos por tais instituições?
No Brasil, criou-se o mito de igualdade entre as etnias. Ninguém se identifica como racista, afinal de contas, todos são frutos da miscigenação! Bom seria se, na prática, isso fosse realmente verdade. Basta fazer um exercício: pense em um detento, no estereótipo de um presidiário. O que você viu? Muito provavelmente pensou em um negro, tatuado, de chinelos e sem camisa. Com certeza você não está sozinho, não é o único que tem essa visão. Este é um dos preconceitos velados de nossa sociedade.
Fingir que as coisas andam bem apenas aprofunda os problemas! Fingimos que não somos racistas, machistas, homofóbicos... Mas onde guardamos nossos preconceitos? Melhor seria se os discutíssemos pensando em eliminá-los. Quando de repente, em um domingo, as ruas se enchem para protestar, expor à sociedade a homofobia, o que pensa? "Lá vai um monte de viado!". Não pensam que eles têm o direito de fazer sua opção sexual, que não são melhores nem piores que os heterossexuais por fugirem aos padrões. Que a essência das pessoas não depende da orientação sexual, afinal de contas, "qualquer maneira de amor vale a pena", como bem disse Milton Nascimento!
O problema real é de reconhecimento! Em geral, as pessoas não conseguem reconhecer o outro igual a si, daí achar que determinados seguimentos da sociedade são inferiores, para que existam então os superiores. Pensar em igualdade de gênero, por exemplo, passa a ser absurdo para alguns homens. Tratar as mulheres como bonecas de porcelana somente reproduz a idéia de sexo frágil, incapaz de existir sozinho. Isso quando não as tratam como uma simples mercadoria que está no mundo para servir os seres superiores, os homens. Apesar de, através de muita luta, elas terem conseguido a igualdade formal, ainda são bastante oprimidas, desde a educação, com valores machistas arcaicos, até a atuação profissional, onde ainda recebem salários menores que os de homens que executam a mesma função. Isso sem tocarmos nos relacionamentos afetivos, afinal de contas, as meninas não podem nem ser caretas, nem "avançadas" (e qualquer vacilo lhes rende a fama de "piriguete").
A idéia de Liberdade e Igualdade não é uma invenção burguesa... Mas a ela coube a sua resignação! De modo a torná-las abstrações reduzindo-as a ficção legal. O Princípio da Isonomia, para utilizar a terminologia jurídica do Estado moderno, opera com sucesso no sentido de camuflar as desigualdades materiais inerentes ao próprio sistema e, através de interações entre os mecanismos de controle social formal (as leis, as instituições) e os mecanismos de controle social informal, garantir o aparato ideológico de sustentação da opressão.